Maria Cândido Moraes
José Armando Valente
Para começo de conversa, devo confessar que, mesmo após ler o livro na íntegra, ainda não ficou totalmente claro para mim "como pesquisar em educação a partir da complexidade e da transdisciplinaridade". Explico: senti falta de exemplos práticos, da apresentação de situações reais nas quais foram utilizados tais métodos, estratégias, teoria. A leitura despertou em mim a curiosidade de ler pesquisas concluídas e apoiadas nessas ideias, para então assimilar melhor o que foi dito na obra de Moraes e Valente.
Veja bem, esse meu comentário inicial não precisa ser interpretado como uma crítica ao livro. Em primeiro lugar, assumo ser essa uma crítica a mim mesma, que sou iniciante no assunto 'complexidade', ou seja, caminho mais lentamente por essas discussões, e que apresento como característica pessoal tal dificuldade em captar claramente explicações mais abstratas e/ou genéricas.
A complexidade opõe-se a simplificações, fragmentações do conhecimento e da ciência, à linearidade e a regras gerais. Uma pesquisa que esteja apoiada nessa proposta requer olhares amplos e profundos sobre o objeto de estudo, valoriza aspectos subjetivos e enfatiza a multidimensionalidade dos fenômenos. Sensibilidade, imaginação, emoção e intuição são também levadas em conta. Assim, em poucas palavras, já podemos perceber que essa proposta se diferencia bastante do modelo que estamos acostumados, de pesquisa linear, objetiva, que distancia pesquisador e objeto investigado e que não ambiciona compreender ou explorar todas as dimensões do fenômeno discutido. Dessa forma, a complexidade se mostra mais completa e parece permitir um entendimento mais rico daquilo que se estuda, mas eu continuo sentindo falta de compreender melhor como tudo isso ocorre na prática.
Sobre as perspectivas teórico-epistemológicas existentes, o livro apresenta informações organizadas em um quadro explicativo interessante, mas que me causou alguns questionamentos... Segue abaixo o quadro:
Os capítulos seguintes do livro trabalham cada um dos elementos da tabela, mas algumas informações ali presentes me fizeram pensar...
Em primeiro lugar, identifiquei que a incorporação da 'imprevisibilidade' e da 'incerteza' na perspectiva eco-sistêmica é um de seus principais diferenciais quando a comparamos com as perspectivas que a precedem. Quando é mencionada, também na eco-sistêmica, a "dinâmica do vir-a-ser", lembrei-me de Vygotsky e sua conhecida ZDP, que parece ter esse mesmo enfoque.
Reparei que, ao longo do texto, os autores transparecem acreditar que a complexidade inova ao reconhecer a importância dos aspectos afetivos, emocionais e subjetivos, não priorizando a cognição como as propostas anteriores. No entanto, essa impressão que a leitura me transmitiu deixou em mim um certo incômodo, pois autores antecessores não mencionados já haviam explorado tais dimensões em suas teorias. É o caso do próprio Vygotsky, que fala sobre sentimentos, sentidos e emoções. Sua visão de homem compreende que a subjetividade exerce um papel fundamental em tudo o que diz respeito àquele sujeito. Wallon é outro teórico que explora vastamente a questão da afetividade e defende veementemente sua importância.
A defesa de uma dimensão metodológica que se valha de multimétodos, mas com prudência metodológica, parece interessante, enriquecedora e potencialmente perigosa. Mais uma vez, seria preciso contar com um pesquisador experiente, organizado, seguro e com baixa tendência a digressões.
O livro apresenta, a partir do capítulo 6, oito princípios-guia para um pensar complexo. Vale destacá-los:
Sobre as perspectivas teórico-epistemológicas existentes, o livro apresenta informações organizadas em um quadro explicativo interessante, mas que me causou alguns questionamentos... Segue abaixo o quadro:
(p. 16-17) >> Clique para ampliar |
Os capítulos seguintes do livro trabalham cada um dos elementos da tabela, mas algumas informações ali presentes me fizeram pensar...
Em primeiro lugar, identifiquei que a incorporação da 'imprevisibilidade' e da 'incerteza' na perspectiva eco-sistêmica é um de seus principais diferenciais quando a comparamos com as perspectivas que a precedem. Quando é mencionada, também na eco-sistêmica, a "dinâmica do vir-a-ser", lembrei-me de Vygotsky e sua conhecida ZDP, que parece ter esse mesmo enfoque.
Reparei que, ao longo do texto, os autores transparecem acreditar que a complexidade inova ao reconhecer a importância dos aspectos afetivos, emocionais e subjetivos, não priorizando a cognição como as propostas anteriores. No entanto, essa impressão que a leitura me transmitiu deixou em mim um certo incômodo, pois autores antecessores não mencionados já haviam explorado tais dimensões em suas teorias. É o caso do próprio Vygotsky, que fala sobre sentimentos, sentidos e emoções. Sua visão de homem compreende que a subjetividade exerce um papel fundamental em tudo o que diz respeito àquele sujeito. Wallon é outro teórico que explora vastamente a questão da afetividade e defende veementemente sua importância.
A defesa de uma dimensão metodológica que se valha de multimétodos, mas com prudência metodológica, parece interessante, enriquecedora e potencialmente perigosa. Mais uma vez, seria preciso contar com um pesquisador experiente, organizado, seguro e com baixa tendência a digressões.
O livro apresenta, a partir do capítulo 6, oito princípios-guia para um pensar complexo. Vale destacá-los:
- Princípio Sistêmico-Organizacional: liga o conhecimento das partes ao conhecimento do todo;
- Princípio Hologramático: o todo está também inscrito nas partes;
- Princípio Retroativo: toda causa age sobre o efeito e estre retroage informacionalmente sobre a causa;
- Princípio Recursivo: auto-organização; natureza autopoiética;
- Princípio Dialógico: superação das dicotomias; representação em espiral - algo em processo, inacabado;
- Princípio da auto-eco-organização: sobre a relação autonomia/dependência;
- Princípio da Re-introdução do Sujeito Cognoscente: (objetividade); participação do sujeito na construção do conhecimento;
- Princípio Ecológico de Ação: toda ação escapa à vontade do sujeito para entrar no jogo de inter-retroações que ocorrem no ambiente; o conhecimento não pré-existe;
Explicações mais detalhadas sobre cada princípio estão expostas no livro, que menciona ainda a existência e necessidade de um Princípio Ético que deve ser respeitado pelo pesquisador. Nele estão incluídos o respeito ao sujeito e à comunidade pesquisada, bem como a necessidade de se dar feedback não apenas no final da pesquisa, mas também durante o trabalho em desenvolvimento.
Trata-se de um livro de leitura rápida, através do qual é possível compreender um pouco do pensamento complexo e como ele se diferencia de outras propostas. Os próprios autores encerram o capítulo final assumindo que ainda haveria muito a se dizer sobre o assunto, mas que isso ficará para outra oportunidade. Para aqueles que desejarem aprender um pouco mais, vale a pena conferir não apenas os outros trabalhos dos mesmos autores, como também ir em busca de outras grandes referências no pensamento complexo. Alguns dos importantes autores citados no livro são: Morin, Varela e Maturana.