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terça-feira, 4 de agosto de 2015

Divagações sócio-históricas sobre a Educação: Iluminismo, Romantismo, Pós-Modernismo e Era Digital

Meu coração é sócio-histórico! S2


Não consigo, nem que eu queira - e eu não quero -, pensar sobre qualquer ser humano sem levar em conta seus contextos. Somos feitos nisso e disso que nos cerca, nos afeta e é por nós afetado. Penso assim. Estou certa disso.

Logo, creio que a cultura, o momento histórico no qual vivemos e nossas experiências com o mundo e com os outros nos moldam. Não que sejamos vítimas passivas nesse processo de formação do nosso 'eu'. Claro que não! Afinal, somos ativos nessa mesma sociedade e também a moldamos. Ou seja, a atividade e a passividade vêm 'juntas e misturadas', mas já falei disso outras vezes. Digo mais, nem fui eu quem disse isso! Foram muitos outros antes de mim, mas escolho aqui referenciar Vygotsky.

Voltando à ideia lançada, nosso contexto social e nosso momento histórico desempenham papéis extremamente importantes no nosso desenvolvimento psicológico (Psicologia sócio-histórica). Logo, podemos perceber relações entre o momento histórico e a educação, muito vinculada ao desenvolvimento dos processos psicológicos.

Hoje, por exemplo, vivemos a era digital e está fácil notar as influências das tecnologias digitais na vida das pessoas, nas relações que elas estabelecem, na forma pela qual se organizam, se comunicam, aprendem, etc. Pensar sobre a educação do séc XXI sem atentar-se às mudanças sociais e sem adequar-se a elas é pior do que nadar contra a maré: é afogar-se. As escolas e demais instituições de ensino, lentamente (infelizmente), buscam incluir as tecnologias digitais nas práticas pedagógicas propostas, os alunos da atualidade buscam as conveniências da web (cursos online, recursos e materiais disponíveis na rede, pessoas, etc) e os pesquisadores e educadores mais dispostos laçam novas ideias, propostas, além de críticas ao modelo tradicional já ultrapassado. Estamos caminhando, ainda com grande resistência, para uma nova era, na qual a educação se transforma, se desconstrói e se reconstrói para adequar-se ao aluno da atualidade e para continuar sendo capaz de prepará-lo para participar do mundo no qual ele vive.

Se olharmos para trás, isso já aconteceu outras vezes. Durante muitos e muitos anos a concepção dualista de homem prevaleceu. O homem não era compreendido em sua totalidade, mas sim visto fragmentado, com suas emoções separadas da sua razão, sua cognição desvinculada do seu lado afetivo, sua mente como desligada de seu corpo. As dicotomias eram principalmente nocivas pois havia grande desequilíbrio: priorizava-se a razão, a cognição e a mente, em detrimento das emoções, dos afetos, do corpo. 

Com o Iluminismo nasce também o embrião da mudança desse pensamento. Vejam, o Iluminismo manteve a forte priorização dos aspectos racionais, cognitivos e intelectuais do homem, mas foram ideias como as de Hegel, Marx e Engels que trouxeram à tona o chamado materialismo dialéticoafirmando que sujeito e objeto de conhecimento interagem, podendo o primeiro apropriar-se do segundo e transformá-lo. A cultura passa então a ser compreendida como elemento fundamental na constituição do homem, na formação de sua consciência e no seu desenvolvimento. Tudo isso foi o ponta pé que a Psicologia sócio-histórica precisava para surgir mais lá na frente, no séc. XX, que foi "quando deu" pra surgir, já que houve uma pedrinha no meio do caminho: o Romantismo.


No século XIX, o Romantismo surge contrapondo-se ao Iluminismo e dando ênfase não mais à razão, mas sim à expressão de sentimentos e desejos. Era a vez de dar espaço à emoção, na verdade, de dar todo o espaço a ela. Assim, apesar das mudanças, algumas características se mantiveram: o desequilíbrio, a dicotomização, a falta de um olhar holístico sobre o homem e sua concepção. 

De qualquer forma, ainda que esse pensamento estivesse distante do entendimento de que as duas dimensões humanas (razão e emoção) não se sobrepõem, mas sim se complementam, tratou-se de um momento histórico marcante em que atenções foram voltadas à importância de um aspecto humano por séculos desvalorizado.

Tanto as influências do ideário iluminista, como a força do movimento romântico, marcaram de diferentes maneiras a constituição da subjetividade moderna, através de confrontos e acomodações entre as esferas pública e privada. (TASSONI, 2008, p. 25)


Então, vivenciados os dois extremos - da priorização da razão no Iluminismo e da priorização da emoção no Romantismo-, partimos para um novo momento histórico no qual o homem começou a ser visto em sua totalidade. Atenções foram voltadas às inter-relações entre razão e emoção, corpo e mente, cognição e afeto. Começaram a ser aceitas as noções de que todos os aspectos humanos estão ligados de alguma forma e merecem ser considerados.

Chega o séc. XX e Vygotsky aparece para revolucionar a Psicologia e a Educação. Por muito tempo suas ideias foram postas em prática e, ainda hoje, são predominantes. Porém, esse teórico que tanto admiro não viveu para ver a era digital. Suas propostas foram feitas tendo como base uma sociedade que apresentava diferenças notáveis em relação àquela na qual vivemos hoje e, apegando-me à sua própria abordagem histórico-cultural, ressalto novamente a urgência de pararmos de querer impor o passado sobre o presente. Precisamos pensar o presente e recriar as práticas passadas. Talvez a teoria ainda sirva, acredito mesmo que possa servir, mas ela precisa ser reelaborada e me nego a acreditar que tanta gente não veja, não sinta isso. Acho que o problema está na natureza humana muitas vezes, naquele medo da mudança que quase todos (ou todos?) costumamos sentir. Tem também a preguiça, que atrapalha... é "mais cômodo" (reproduzo, mas discordo sem me estender nisso) fazer como já fizemos tantas vezes do que arriscar, experimentar, errar, refletir... Mas não vai ter jeito. As mudanças acontecerão, queiram ou não queiram. O futuro já chegou e vai chegar sempre e outra vez. Quem não se atualiza, sai da cena. É como disse Nietzsche:


Tudo evolui; não há realidades eternas: tal como não há verdades absolutas.


Acho que falta também em muitos a humildade de reconhecer que, aquilo que faz e que sempre fez não serve mais. É difícil admitir que estivemos certos e agora estamos errados, inapropriados. Talvez seja algo como meus jeans antigos, que já não me servem, mas que insisto em guardar e dizer que voltarão a entrar nos meus quadris. Insisto neles e sentirei um gosto de vitória se, daqui muitos anos, por acaso, um puder ser novamente usado. Pensarei, provavelmente, que fiz bem em não descartá-los antes, mas, na realidade, faço muito mal em não doá-los a quem possa fazer melhor proveito desde já e também faço muito mal em guardá-los e constantemente recordar a mim mesma de que estou em pior forma física. Assim faz o educador que não se atualiza: insiste erroneamente por toda uma vida em práticas ineficazes que, ocasionalmente, surtirão efeito aqui ou acolá e isso bastará para saciar sua teimosia. Precisamos ser humildes e olhar em volta, ver que tantas pessoas precisam verdadeiramente dos nossos desapegos, do abandono das nossas vaidades e do fim desse egoísmo inútil. Precisamos enxergar aqueles que passam fome, frio, que vivem nas ruas, na miséria. Precisamos enxergar nossos alunos, que precisam da nossa sensibilidade, da nossa colaboração, empatia, entendimento, dedicação. Precisamos olhar com amor sempre, seja em casa, no trabalho ou nas ruas da cidade. A educação, afinal, não se restringe à escola. Muito além da matemática, da biologia, da gramática e da história, precisamos ensinar uns aos outros a construir um mundo cada vez melhor. E esse trabalho é sim dos educadores, mas não só: é de todos, para todos.


E, já que o texto chegou perto do clima dos anos 60, fica aí minha apologia à paz e ao amor:










Referências:

TASSONI, E. C. M. A dinâmica interativa na sala de aula: as manifestações afetivas no processo de escolarização. Tese de Doutorado. Campinas: FE/UNICAMP, 2008.


Imagens:

http://the-wonderist.com/wp-content/uploads/book-heart2.jpg
http://24.media.tumblr.com/tumblr_me75javhTd1qdjda6o1_500.jpg
http://pt.slideshare.net/ederig/rest-in-java-20-13884984

segunda-feira, 4 de maio de 2015

A afetividade no processo de orientação de pesquisa científica

É com muita alegria que compartilho aqui um artigo de minha autoria, recém publicado na Revista de Educação da PUC-Campinas.

Este é o resultado do trabalho realizado durante minha iniciação científica, realizada em 2013, na Faculdade de Educação da Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Sérgio Leite. Para acessar o artigo na íntegra, clique aqui.



A afetividade no processo de orientação de pesquisa científica

Bruna Mazzer Nogueira 
Sérgio Antônio da Silva Leite


Resumo 

O presente texto é baseado em uma pesquisa cujo objetivo foi descrever e analisar as práticas pedagógicas desenvolvidas por uma orientadora de pesquisa científica, que tiveram impactos afetivos positivos na relação que se estabeleceu entre sua orientanda e as próprias práticas de pesquisa realizadas. As bases teóricas fixam- -se na área da Psicologia, principalmente em Vigotski e Wallon. A análise agrupou os relatos do sujeito em núcleos temáticos relacionados às características relevantes da orientadora e do processo de orientação por ela desenvolvido. Dessa forma, foi possível identificar os impactos positivos da mediação pedagógica realizada pela orientadora em relação ao sujeito, com o possível estabelecimento de uma relação afetivamente positiva entre o sujeito e seu objeto de conhecimento, no caso, a prática da pesquisa. A discussão dos dados obtidos foi realizada com base na abordagem teórica assumida. A pertinência do estudo se firma na escassez de pesquisas sobre o tema e no reconhecimento da importância da questão da afetividade nos processos de mediação.
Palavras-chave: Afetividade. Educação. Psicologia. Vigotski. Wallon.

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I'm glad to announce the publication of an article of mine at Revista de Educação da PUC-Campinas.

This is the result of the work developed in 2013, at Faculdade de Educação, Unicamp, together with Dr. Sérgio Leite, a very respected professor and researcher in the educational field.




Affectivity in the process of research supervision



Bruna Mazzer Nogueira 
Sérgio Antônio da Silva Leite

Abstract 

Based on a survey, the aim of the present paper is to describe and analyze the positive affective impacts of pedagogical practices developed by the research advisor on the relationship between the advisee and the research practices. The theoretical framework in the area of Psychology is based particularly on the studies of Vigotsky and Wallon. The analysis consisted of the subject’s reports on thematic features related to relevant aspects of the advisor and the process of supervision. Thus, it was possible to identify positive impacts on the pedagogical mediation performed by the advisor in relation to the advisee, with the possible establishment of an affectively positive relationship between the subject and the object of knowledge, that is, the research practice. The discussion of the data collected was based on the theoretical approach adopted. The relevance of the study is due to the scarcity of research studies on the subject and the acknowledgement of the importance of the role of affectivity in the pedagogical mediation process. 
Keywords: Affectivity. Education. Psychology. Vigotsky. Wallon.




The complete article was written in Portuguese language and can be accessed by clicking here.




Referência:

Nogueira, B. M.; Leite, S. A. S. A afetividade no processo de orientação de pesquisa científica. Revista de Educação PUC-Campinas, v.19, n.3, 2014. Disponível em: http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/view/2852